Princípios da Boa Comunicação
Ser empático e saber ouvir são as chaves para uma boa comunicação com pacientes e seus familiares. Perceber o quanto eles estão entendendo da situação e explorar as preocupações deles são os fatores que mais contribuem para o desenvolvimento de uma relação harmônica. A informação deve ser dada de maneira progressiva e com compaixão para que o espaço entre expectativa e realidade possa ser reduzido gradativamente.
Para ajudar na boa comunicação de más notícias o “protocolo SPIKES” foi desenvolvido. Não se trata de um protocolo rígido, mas é realmente uma ajuda para nortear a conversa e controlar as emoções.
O SPIKES é composto de 6 passos que tentaremos resumir:
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S - SETTING UP (Preparando para o encontro)
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O ambiente externo (local privado e preparativos para atendimento - estando, por exemplo, os participantes da conversa sentados, um de frente para o outro sem anteparos e celular no silencioso para evitar interrupções) e o ambiente interno (estado de espírito da equipe médica no dia) estão adequados?
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Você sabe todos os detalhes do caso (identificação, diagnóstico e prognóstico)?
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P - PERCEPTION (O que o paciente e os familiares sabem?)
Este é o momento de OUVIR, sem pressa. Procure entender o que se sabe sobre o diagnóstico e o prognóstico, conhecendo as expectativas com relação ao futuro. Neste momento, temos a oportunidade de dimensionar a dificuldade que enfrentaremos para transmitir aquela notícia e de saber qual a linguagem que teremos que usar para sermos adequadamente entendidos por aquelas pessoas. Pergunte:
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“O que já foi falado para vocês?”
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“O que você entendeu da situação até agora?”
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“Como tudo isso começou?”
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“Quando você diz [xxxx], o que você quer dizer?”
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I - INVITATION (“Você quer receber mais informações?”)
Agora teremos que saber se aquelas pessoas querem ou conseguem continuar a conversa. Às vezes, o processo é tão doloroso que conseguimos perceber até pela linguagem não verbal que teremos que parar por aqui. Se as pessoas não quiserem continuar a conversa, garanta a continuidade do cuidado e se disponibilize para um novo encontro caso eles mudem de ideia. Pergunte:
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“Você gostaria de que eu explicasse um pouco mais sobre sua doença?”
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“Você é o tipo de pessoa que gostaria de saber sobre tudo? ”.
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K - KNOWLEDGE (A informação propriamente dita)
Nesta etapa vamos dar a notícia e, para isso, é importante iniciarmos o diálogo com termos que ressaltam que a notícia não é boa, como, por exemplo, “infelizmente o que eu tenho para dizer não é bom”. Evitar:
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Palavras técnicas. Exemplo: Usar “espalhado” em vez de “metastatizado”
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Tom e termos catastróficos. Exemplo: ”Você tem um câncer muito ruim e morrerá se não tiver tratamento”
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Despejar toda a informação de uma vez e checar a compreensão do paciente periodicamente
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Termos como: “Não há mais nada que se fazer”
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E - EMOTIONS (Reconhecimento e validação das emoções)
Após receber uma notícia ruim, é normal que as pessoas tenham emoções fortes. Neste momento, devemos reconhecer essas emoções, nominá-las e validá-las como normais e esperadas para esse tipo de situação, deixando espaço para vivenciá-las plenamente.
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Permitir o silêncio do paciente.
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Podemos dizer: “vejo que você está muito triste/desesperado/revoltado mas é normal que esteja assim, afinal está passando, talvez, pelo momento mais difícil de sua vida, tem o direito de ficar triste e de chorar”.
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Demonstrar empatia com gestos e toques, desde que bem recebido pelo paciente
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Evitar frases como: “imagino o que você está sentindo”, uma vez que é impossível compreender completamente o sentimento de cada indivíduo.
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S - SUMMARY and STRATEGY (Resumir e propor estratégias para o futuro)
Neste último passo, devemos resumir em linhas gerais o que foi dito e, a partir de então, propor quais medidas serão feitas. Sempre há o que ser feito e devemos ter em mente, desde o primeiro passo, quais seriam essas medidas.
Como, por exemplo:
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“Nosso próximo passo é fazer o máximo para evitar qualquer dor ou desconforto e proporcionar vida em qualidade da melhor forma possível”
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“Sempre há muito a ser feito e garantimos que toda a equipe está empenhada em fazer o que for necessário”
Durante todo o momento da comunicação vale algumas dicas:
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Repita palavras usadas pelo paciente para ressaltar que você está atento e se importando com o que é dito. Por exemplo, “quando você diz que reconhece que está pior...”.
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Permita a negação a qualquer momento da conversa. Esse mecanismo de defesa auxilia o paciente a controlar a quantidade de informações que deseja receber. “Você gostaria de continuar conversando sobre esse assunto? ”.
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Se preocupe mais em compreender do que propriamente em responder perguntas. Para ajudar as pessoas precisamos conhecer no íntimo seu sofrimento. “O que mais está te incomodando? ”., “Como o que nós acabamos de conversar deixou você agora? ”, “Como você está se sentindo agora? ”.
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Se disponibilize e, de fato, garanta esta disponibilidade. “Se você tiver outras dúvidas podemos nos ver outra hora”. “Seria importante para você se nós conversássemos mais uma vez sobre isso? ”.
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Não se sinta constrangido em dar uma notícia ruim. Você não é o responsável por ela e com certeza desejaria que fosse diferente!
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Espere a tristeza e o choro, eles são praticamente certos nestas ocasiões. Não se desespere com o choro das pessoas, simplesmente acolha
Valorize a linguagem não verbal, aprenda a decifrá-la e confie na sua intuição. Além disso,